Semana Econômica: Payroll Antecipado, Fed em Alerta e Tarifas de Trump Elevam Incertezas
A semana entre 29 de junho e 4 de julho promete ser curta, mas carregada de expectativas nos mercados globais. Com o feriado da Independência dos Estados Unidos encerrando as atividades financeiras mais cedo na quinta-feira (3) e suspendendo os mercados na sexta-feira (4), os dados mais aguardados do mês — payroll e taxa de desemprego de junho — foram antecipados.
Antecipação do Payroll e Expectativas para o Mercado de Trabalho
O relatório de emprego não agrícola, conhecido como payroll, será divulgado na quinta-feira, antes do feriado americano. A projeção é de uma leve desaceleração na criação de empregos, passando de 139 mil em maio para 129 mil em junho. Mesmo com números fortes nos meses anteriores, o consenso entre analistas é de que a taxa de desemprego deve se manter em 4,2%.
Historicamente, os dados de emprego costumam ser revisados para baixo posteriormente, mas ainda assim permanecem acima das previsões iniciais, o que reforça a resiliência do mercado de trabalho americano.
Inflação em Foco: PCE Acelera e Desafia o Fed
Outro indicador importante divulgado recentemente foi o núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE), considerado o preferido do Federal Reserve (Fed) para monitorar a inflação. O dado mostrou aceleração, subindo de 2,6% em abril para 2,7% em maio, na comparação anual.
Essa elevação no PCE levanta dúvidas sobre a trajetória futura da inflação nos EUA, especialmente diante da imposição de tarifas adicionais de importação, que podem gerar efeitos secundários nos preços.
Tarifas de Importação e Tensões Comerciais
As tarifas de importação impostas pelo governo Trump seguem em destaque. Atualmente, há alíquotas adicionais de 10% para a maioria dos países, com exceções como México (25%), Canadá (25%), e China (30%). Alguns setores estratégicos — como aço, alumínio e autopeças — são afetados independentemente da origem.
A data-limite para novos acordos comerciais bilaterais é 9 de julho. Caso não haja avanços, países como o Canadá podem sofrer tarifas ainda mais pesadas. A incerteza em torno dessas tarifas mantém os mercados cautelosos quanto ao impacto inflacionário e nas dinâmicas de emprego.
Fed Dividido: Cortes de Juros em Debate
Com base no cenário atual, os robustos dados do mercado de trabalho e a inflação ainda elevada dificultam a justificativa para três cortes de juros, como alguns analistas haviam previsto para setembro, outubro e dezembro. No entanto, vozes dissidentes dentro do próprio Fed, principalmente entre membros nomeados por Trump, defendem a redução da taxa já em julho.
Tudo depende do comportamento dos próximos dados econômicos. Somente uma deterioração significativa no mercado de trabalho — com fechamento líquido de postos e alta acentuada na taxa de desemprego — pode antecipar a decisão de cortar juros na próxima reunião.
Se o impacto das tarifas na inflação for moderado e o emprego seguir estável, o Fed tende a aguardar até o final do ano para promover um ou dois cortes de juros, o que poderia ocorrer nas reuniões de outubro e dezembro.
Cenário Nacional: Economia em Ritmo Lento, Política em Ebulição
No Brasil, a agenda de indicadores será menos intensa, mas a política econômica segue no centro do palco. O governo deve acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do Congresso que derrubou o decreto que aumentava o IOF — um embate que pode gerar forte repercussão institucional.
Na segunda-feira, teremos a publicação do Boletim Focus, trazendo as expectativas do mercado para inflação, juros e PIB. Também serão divulgados os dados do setor público de maio pelo Banco Central.
Na terça, destaque para o PMI Industrial de junho, divulgado pela S&P Global. Na quarta-feira, o foco será o PMI de serviços e composto, além da produção industrial de maio, segundo o IBGE. A inflação ao produtor de maio fecha a semana com divulgação na sexta.
Europa e BCE: Discursos e Dados Inflacionários
No cenário europeu, além da agenda de PMIs, os holofotes se voltam para o Fórum de Bancos Centrais do Banco Central Europeu (BCE), realizado em Portugal. O evento contará com falas dos principais dirigentes de bancos centrais do mundo, o que pode indicar mudanças no tom da política monetária europeia.
Além disso, serão divulgadas as prévias da inflação ao consumidor de junho da Alemanha e da zona do euro, indicadores fundamentais para as decisões do BCE.
Conclusão: Cautela e Volatilidade Marcam a Semana
A semana será encurtada pelo feriado americano, mas promete ser intensa nos mercados. Entre dados de emprego, tensões comerciais e incertezas sobre política monetária, investidores devem adotar uma postura cautelosa, atentos ao comportamento dos indicadores e à retórica dos bancos centrais.
Enquanto nos Estados Unidos a dúvida gira em torno da necessidade e do timing de cortes de juros, no Brasil os olhos se voltam para o conflito institucional em torno do IOF e para os sinais do setor industrial. Na Europa, a inflação segue como preocupação principal.
Prepare-se para uma semana de decisões estratégicas e muita análise de risco.